Curitiba: a joia verde sustentável do Brasil
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Curitiba: a joia verde sustentável do Brasil

Aug 14, 2023

Na década de 1950, o arquiteto Oscar Niemeyer projetou Brasília como uma cidade vanguardista do futuro. Construídos em apenas quatro anos (1956-1960), os hotéis ficam lado a lado, há um setor com hospitais, outro setor com embaixadas, áreas residenciais (que quase não têm lojas)... tudo isso ligado por majestosas avenidas. Os motoristas não vivenciam os engarrafamentos que atormentam seus compatriotas, mas poucas cidades são tão hostis aos pedestres quanto Brasília. As distâncias são tão enormes que ninguém pensa em caminhar ou mesmo andar de bicicleta de um lugar para outro. A capital do Brasil foi planejada para atender ao setor automobilístico. Apesar de sua beleza e singularidade inquestionáveis, o modelo brasiliense está obsoleto.

Mas o Brasil tem uma cidade do futuro. Chama-se Curitiba. A inauguração de Brasília ainda estava fresca quando esta cidade localizada a 1.400 quilómetros (cerca de 870 milhas) a sul da capital implementou um inovador sistema de transporte público - semelhante a um metro acima do solo - com paragens futurísticas em forma de tubos transparentes. Essas inovações vieram da coragem do prefeito, arquiteto e urbanista de Curitiba, Jaime Lerner (1937-2021), nomeado pela ditadura militar. Uma revolução de alto impacto e baixo custo estava começando.

Em meio século, a população triplicou para 1,8 milhão de habitantes, e as políticas públicas transformaram Curitiba em um ícone verde, uma cidade sustentável, um espaço favorável aos pedestres e motivo de inveja de todo o país porque suas ruas são imaculadas. A cidade possui 48 parques e 13 milhões de metros quadrados de vegetação nativa. É amplamente desconhecido no exterior, fora dos círculos ambientalistas, que premiaram a cidade, e daqueles que acompanharam de perto a situação jurídica do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, que anteriormente estava preso em uma delegacia de polícia de Curitiba.

Duas palavras resumem a fórmula secreta que fez de Curitiba um modelo de sustentabilidade: o crescimento ordenado, uma anomalia num país que deu ao mundo a palavra favela, a favela que surge em meio à desordem nas periferias das cidades e acolhe a mão de obra pobre. Mas a favela enfrenta dificuldades diante de eventos climáticos extremos, como chuvas torrenciais, que matam centenas de brasileiros em suas casas precárias todos os anos.

Localizada a 100 quilômetros (62 milhas) da costa e a quase 700 quilômetros (cerca de 435 milhas) das Cataratas do Iguaçu, Curitiba é a capital do estado do Paraná. Esta cidade ouviu os planeadores urbanos ao decidirem como queria crescer e, o que é mais surpreendente, os políticos obedeceram.

A cidade foi fundada no final do século XVII. Nasceu como vila de garimpeiros e cresceu graças aos tropeiros que levavam mulas para as minas. Caminhando por Curitiba agora, árvores aparecem por toda parte. Enquanto o primeiro parque data de 1886, os demais foram criados nos últimos 50 anos. As áreas verdes da cidade totalizam 60 metros quadrados (cerca de 646 pés) por habitante, cinco vezes mais que o mínimo de 12 (129 pés) recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Os moradores de Curitiba se orgulham de sua consciência ambiental e buscam tornar a fórmula da cidade ainda mais verde. “As ideias que eram sensacionais na década de 1970 não foram melhoradas”, lamenta Grasiela Azevedo, analista de processos de 41 anos. Ela pertence à primeira geração de alunos que se converteram ao ambientalismo na escola, que ensinou e supervisionou seus pais. “O transporte público na hora do rush é tão caótico que ando de bicicleta”, diz ela durante uma caminhada. A rede cicloviária se estende por 250 quilômetros (150 milhas) e o plano é chegar a 400 (248,5 milhas) em dois anos.

Depois de vários anos em que os presidentes da Câmara deixaram de dar prioridade ao crescimento sustentável e às questões ambientais, um urbanista está mais uma vez à frente do município. Rafael Greca, 67 anos, é discípulo de Lerner, o homem que plantou a semente para a transformação da cidade, e está embarcando no processo de atualização desse legado com um plano ambicioso para Curitiba se adaptar e mitigar as mudanças climáticas. “O aquecimento global é uma tendência; não é o destino da humanidade. Podemos mudar isso. Temos que convencer as pessoas e agir não só na floresta tropical, mas também nas nossas cidades. Estamos plantando 100 mil árvores por ano aqui”, proclama o prefeito em seu gabinete, onde há quatro décadas foi tomada a decisão crucial de estabelecer a reciclagem em todo o município.